InfoPress: 06/20/16

segunda-feira, 20 de junho de 2016

MBL, heróis com pés de barro

Documentos exclusivos revelam patrimônio obscuro e ligações de políticos corruptos com líderes de protestos
Um dos protagonistas das manifestações pró-impeachment, o Movimento Brasil Livreganhou fama e, soube-se recentemente, dinheiro. Em uma mobilização formada em sua maioria por cidadãos brancos e acima dos 50 anos, os integrantes do MBL tornaram-se símbolos de uma nova geração “apartidária, ética e politizada”. O viés antiesquerdista eantipetista tornou os jovens ainda mais simpáticos à direita ansiosa em retomar o poder no Brasil.
Nos últimos tempos, acumulam-se evidências de que os integrantes do MBL não são exatamente os heróis emulados por uma parte da mídia. Estão longe de ser apartidários (um de seus líderes admitiu que o grupo recebeu apoio financeiro do PSDB, partido mais interessado em derrubar a presidenta Dilma Rousseff) ou mesmo ético.
Uma investigação de CartaCapital na cidade de origem do movimento, Vinhedo, cidade de 70 mil habitantes na região metropolitana de Campinas (SP), revela que no próprio quintal a turma do MBL não hesita em adotar as velhas práticas criticadas nas manifestações “contra a corrupção”
Em Vinhedo, a origem do MBL confunde-se com o poder do ex-prefeito Milton Serafim, do PTB. Eleito quatro vezes para comandar a cidade, Serafim acabou condenado a 32 anos de prisão por receber propina em troca da facilitação de licenças de loteamentos.
Renan Santos
Renan Santos, alvo de dezenas de processos na Justiça
De acordo com o Tribunal de Contas de São Paulo, até mesmo a famosa festa da uva da cidade apresentou diferença na prestação de contas de gastos da prefeitura sob sua gestão. Em 2002, dos 162 mil reais gastos, apenas 41 mil tiveram as despesas comprovadas. As falcatruas, segundo a Justiça, não param por aí.
Em abril deste ano, Serafim também foi condenado por envolvimento com a máfia dos sanguessugas. O esquema retirou cerca de 110 milhões de reais dos cofres públicos em desvios de recursos da compra de ambulâncias. Na conta, mais dois anos de prisão. Assim como em todas as acusações das quais é alvo, o ex-prefeito se diz inocente e objeto de perseguições. 
O petebista recorre em liberdade da condenação por recebimento de propinas na liberação de loteamentos na cidade, mas se viu obrigado a renunciar à prefeitura em 2014. Quem assumiu o comando foi o vice, Jaime Cruz, do PSDB. Cruz nunca escondeu sua amizade de longa data com Serafim. Em um vídeo daquele ano, afirma que o ex-prefeito “sempre será um homem livre para nos comandar”. 
O tucano parece entender bem a situação do petebista. No início deste ano, Cruz foi acusado de participação num esquema de superfaturamento da merenda escolar na cidade. Imagina-se que o MBL, combatente da corrupção, denuncie os desmandos de Serafim e Cruz, certo? Errado.
O atual prefeito tem o apoio fiel de dois fundadores do movimento, os irmãos Renan, coordenador nacional, e Alexandre Santos. A dupla costuma frequentar a Câmara de Vereadores não para pedir investigações a respeito do tucano e de seu antecessor, mas para ameaçar os parlamentares de oposição.
Chegaram ao ponto de insultos a quem denuncia qualquer aliado da atual administração. Renan Santos aparece em várias fotos ao lado de Cruz e do prefeito condenado. 
A Justiça Federal chegou a determinar o bloqueio de bens do prefeito, frequentemente fotografado com integrantes da Juventude do PSDB. Na liminar, o juiz Renato Camargo Nigro afirma: “E mesmo que não fosse assim, celebrar contratos com até 411% de sobrepreço para a aquisição de bens (gêneros alimentícios), neste primeiro momento tem-se que não há como falar em mera inépcia administrativa”.
E prossegue: “Há no caso indícios veementes de frustração à licitude do processo licitatório, mediante o direcionamento do certame (...) ao que indicam os elementos dos autos, por ora, vislumbra-se haver má-fé, dolo, vontade livre e consciente de angariar vantagens indevidas em detrimento do bem público”. 
Quando era secretário de Educação e ocupava a pasta-alvo da investigação, Cruz saiu em defesa das compras que, segundo o MP, deu prejuízo de ao menos 17 milhões aos cofres municipais. Durante sessão na Câmara de Vereadores, alegou que o objetivo da reformulação do cardápio foi dar “qualidade às refeições das nossas crianças”.
Documento
Dono de jornal apoiador do MBL é preso com drogas; pai de Rubinho, denunciado pelo MP
Outro integrante do grupo é Rubinho Nunes, filho do vereador Rubens Nunes, denunciado por venda de produtos falsificados em 2000. Recentemente, Nunes pai comprou um terreno de 250 metros quadrados em um dos condomínios mais caros da cidade.
Declarou ter pago 100 mil reais. Ergueu no terreno uma casa imponente. Segundo corretores da região, o imóvel custa ao menos 1 milhão de reais. O vereador não mora no local. Pelo menos é o que dizem registros oficiais na Câmara de Vinhedo. Sua residência fica em outro condomínio fechado da cidade.
Em meio à crise econômica, Nunes pai prosperou. Em 2012, havia declarado à Justiça Eleitoral um patrimônio de 220 mil reais. Antes de se tornar presidente da Câmara local, o político vivia em uma casa simples no bairro Três Irmãos. 
Na declaração ao TRE, algumas informações prestadas do patrimônio já chamavam a atenção. Informados como prédios residenciais, dois dos imóveis estão listados nos valores de 20 mil e 80 mil reais, embora um deles localizados em área nobre da cidade.
A ligação do vereador com os líderes do MBL rendeu até mesmo homenagens na Câmara. Nunes assinou uma moção de aplausos ao grupo, pedindo que o coordenador nacional, Renan Santos, fosse comunicado da ação no Legislativo local. 
Enquanto isso, Nunes filho é um dos militantes mais ativos do MBL. Advogado, lançou sua candidatura à prefeitura da cidade pelo PMDB e costuma ser bem atuante nas redes sociais. Fã do ex-candidato a presidente da República Enéas Carneiro, defensor da aquisição de armas nucleares pelo Brasil, teve de prestar depoimento a respeito do comportamento do grupo na internet.
Por conta de suas declarações e das postagens ofensivas do movimento, foi convidado a depor na CPI dos Crimes Cibernéticos. No interrogatório, mostrou-se indignado com o convite: “A CPI tem de ir atrás é de estelionatários”. Uma pergunta do deputado Jean Willys, do PSOL, parece, no entanto, ter incomodado o militante do MBL.
O parlamentar quis saber se ele era sócio de José Luiz Gugelmin, autor de um pedido de cassação de vereadores da cidade que investigam a atual administração. Nunes filho negou: “Desafio qualquer pessoa a mostrar que somos ou fomos sócios”. 
Não foi difícil comprovar a relação. A Wayback Machine é uma ferramenta criada para recuperar dados apagados da internet. Entre 2008 e 2013, mostra o rastreamento, Nunes filho foi sócio do escritório Francisco Carvalho Advogados. Gugelmin figura no mesmo quadro societário até 2012.
Enquanto Nunes filho tenta promover os aliados políticos do pai acusados de corrupção, Renan Santos, o irmão e familiares especializaram-se em negócios estranhos. As empresas da família respondem a uma série de ações judiciais. A atividade de alguns desses empreendimentos chama a atenção.
Rubinho Nunes
Santos, enrolado com o Fisco, Holiday, que diz ter orgulho de ser 'negro de direita', Kataguiri, o 'articulista' da Folha, e Rubinho Nunes em candidatura a prefeito pelo PMDB
A Portex Comércio de Esquadrias de Metal, anteriormente chamada Braido Silva e Filhos Ltda. e ainda RDC Solutions Comercial LTDA., e também Pereira e Marcondes Ltda, oferece uma gama de serviços. Sediada em Jundiaí, cidade próxima a Vinhedo, a companhia continua com registro ativo na Receita Federal. 
Segundo a Junta Comercial, a Portex presta serviços de incorporação de empreendimentos imobiliários, comércio de produtos siderúrgicos e atacadista de materiais de construção. Embora atue em tantos segmentos, a sede fica em um imóvel servido por uma portinhola.
Na entrada, um cartaz pede para a correspondência ser entregue em um modesto bazar ao lado. Renan deixou a sociedade e Alexandre é o principal sócio de um empreendimento com capital de 400 mil reais. No bazar, ninguém soube dizer quem são os irmãos. “Nem conheço. Sempre tá fechado. Empresa dentro da casa, só se for.” 
As sucessivas mudanças no quadro societário também despertam a atenção. Uma das parceiras, até 2012, foi a RSA Administradora de Bens LTDA. Com endereço em uma cidade pobre do interior da Bahia, Simões Filho, a empresa está registrada em uma rua na qual nada mais há do que casas humildes. Em Simões Filho, ninguém nunca ouviu falar da RSA ou dos irmãos Santos.
Eles operam e entendem de várias áreas no amontoado de empresas que coordenam. Lâmpadas, materiais elétricos, viagens, turismo, distribuição e logística, esquadrias e materiais metálicos, estamparia, metalurgia, filmagens, construção civil, panificadora, engenharia etc. 
A trajetória obscura dos negócios dos irmãos não fica nada a dever ao nascimento do MBL. Em 2014, cerca de dez jovens deram início a um movimento chamado “Renova Vinhedo”. Abraçados a “novas bandeiras”, apresentavam-se como “jovens e em geral fora da política”, que traziam “soluções mais modernas e de outros países”. Assim Renan Santos apresentou em vídeo o “Renova Vinhedo”.
Quanta mudança. Recentemente, o coordenador nacional do MBL foi flagrado em um áudio no qual admite que o movimento recebeu dinheiro do PSDB, PMDB, DEM e Solidariedade, todos com integrantes envolvidos na Lava Jato, para organizar manifestações contra Dilma Rousseff e o PT. 
PMDB e MBL
PMDB e MBL, de mãos dadas contra a corrupção
Os irmãos Santos foram filiados ao PSDB até março de 2015. Vivem em uma ampla casa em um terreno de mil metros quadrados, no Condomínio Estância Marambaia. Segundo a escritura, a propriedade está no nome de Stephanie Liporacci Ferreira dos Santos, irmã de Renan, que vive na Alemanha.
Na escritura, o imóvel é avaliado em 860 mil reais, muito abaixo do valor estimado por corretores locais: entre 1,5 milhão e 4 milhões de reais. Coincidência ou não, parte das contribuições ao MBL é destinada a uma conta de Stephanie Santos, conforme reportagem do portal UOL. 
Na defesa do ex-prefeito Serafim unem-se os integrantes do MBL e políticos do PSDB. Um dos mais ativos defensores do impeachment e coordenador da campanha presidencial deAécio Neves em 2014, o deputado federal Carlos Sampaio defendeu em vídeo o ex-prefeito.
Promotor de carreira, Sampaio afirma na gravação que as acusações contra o petebista são “perseguições injustas” e diz ter “muito orgulho de ser seu amigo”. Também aproveita para agradecer a Cruz, o atual prefeito, por sua “lealdade”.
Em outro vídeo, durante uma das manifestações em frente ao Masp, na Avenida Paulista, a favor do impeachment, aparece ao lado de Renan Santos e Rubinho Nunes aos berros: “Chega de roubalheira”. 
Os militantes apartidários do MBL não se recusaram a subir recentemente em um palanque do PMDB em Vinhedo. O presidente interino Michel Temer, acusado de receber propina do esquema da Petrobras, até mesmo aparece em um vídeo.
No evento, notáveis do movimento compareceram, entre eles Kim Kataguiri e Fernando Holiday. No mesmo palanque, o deputado federal Fernando Marchezan, denunciado por difamação contra um promotor de Justiça, conclama a militância do PMDB.
Na plateia figuravam outros envolvidos com a Justiça. Destaque para Alexandre Tasca, ex-secretário de Serafim, condenado a 21 anos de prisão (recorre em liberdade) por envolvimento no esquema. 
Arquivo
Dados apagados de site revelam que líder do grupo mentiu na CPI
Rubinho também é próximo ao senador Aécio Neves, citado cinco vezes por cinco delatores na Lava Jato. O coordenador do MBL aparece em várias fotos com o parlamentar e, inclusive, fez a “escolta” na Avenida Paulista para o senador na última manifestação peloimpeachment em 13 de março.
Em um vídeo ao qual a revista teve acesso, Rubinho faz o abre alas para o senador, enquanto Aécio tenta escapar das vaias na avenida. Curiosamente, as páginas do MBL nas redes sociais, as mesmas que fazem postagens sucessivas de suas ações políticas contra a “malversação do dinheiro público”, não registraram o evento do PMDB em Vinhedo. 
Na cidade, a mídia, como em outras partes do País, refere-se ao movimento de forma elogiosa. Um jornal local faz extensa cobertura das iniciativas do MBL. Rubinho Nunes costuma advogar para o periódico e é amigo do fundador da empresa jornalística.
O semanário é acusado em diversas ações de difamação contra políticos que se opõem à atual administração. Um site foi criado, chamado “falsojornalismo.com”, para denunciar as práticas da mídia local.
"Apartidários"
Apoio de Serafim e Carlos Sampaio. Casa de Renan Santos vale ao menos 1,5 milhão de reais. Na escritura, pouco mais da metade

O fundador do jornal, Juliano Gasparini, é acusado de chantagear políticos com reportagens depreciativas e foi condenado por difamar o promotor responsável por investigar a quadrilha de Serafim na cidade. Recentemente foi detido com cocaína, mas declarou ser “alvo de perseguição”. 
Rafael Carvalho, ex-sócio de Nunes filho, é ativo militante do MBL. Foi diretor-jurídico da Câmara Municipal de Vinhedo e lançou pré-candidatura à prefeitura pelo PSDB. Crítico contumaz da corrupção nas redes sociais, curiosamente deu um parecer jurídico contrário a uma lei da Ficha Limpa para a administração municipal, em 2012, quando dirigia o órgão jurídico do Legislativo local.
Na manifestação, disse que se baseava em pareceres jurídicos contrários à proposta. O projeto previa restrições na contratação, na prefeitura e na Câmara, de indivíduos com condenações transitadas em julgado.
Apesar da contrariedade do Jurídico, a proposta foi aprovada pelo plenário da Câmara Municipal. Ao mesmo tempo, o advogado, nas redes sociais, orgulha-se de possuir fotos empunhando um boneco “Pixuleco” e se apresenta como organizador do MBL em Vinhedo, contra a corrupção.
CartaCapital conversou com Rubinho Nunes por telefone. No primeiro contato, na quarta-feira 15, disse que não poderia responder aos questionamentos da reportagem em razão de compromissos políticos, mas que se manifestaria no dia seguinte e repassaria os questionamentos a todos os integrantes do MBL.
Em novo contato no dia seguinte, um assessor atendeu seu celular e informou que o pré-candidato estava em uma série de compromissos e que retornaria as ligações. A reportagem entrou também em contato com seu escritório profissional, mas também não obteve respostas. 
Família
Rubinho e Renan, ombro a ombro com aliados de Serafim, "o condenado". Abaixo, Rubinho, a família e os prefeitos acusados de desvios

*Reportagem publicada originalmente na edição 905 de CartaCapital, com o título "Heróis com pés de barro"


Empresário que citou Temer desiste de delação


247 - Um dos donos da Engevix, José Antunes Sobrinho, que citou o presidente interino Michel Temer na Lava Jato, desistiu do acordo de delação.

Ele prometia entregar provas à Lava Jato do pagamento de R$ 1 milhão a um interlocutor do presidente interino Michel Temer (PMDB), como forma de agradecimento pela participação em contrato de R$ 162 milhões da Eletronuclear, refere à usina de Angra 3. No entanto, ele decidiu interromper a negociação depois de, segundo seus advogados, ter sido absolvido em uma das ações da operação por falta de prova. Investigadores acreditam em outras motivações.

A Argeplan, uma empresa de arquitetura de São Paulo que seria ligada a Temer, ganhou licitação da Eletronuclear para operar na usina de Angra 3 em 2012. Sobrinho teria feito ao menos dois encontros no escritório de Temer, em São Paulo, acompanhado de um dos sócios da empresa, João Baptista Lima Filho, para tratar de assuntos ligados à Eletronuclear. O executivo afirma que pagou R$ 1 milhão para a campanha do peemedebista em 2014, sob pressão de Lima, que dizia agir em nome de Temer. O vice confirma os encontros, mas nega pagamentos ilícitos.

Só Dilma salva a Lava Jato




Alex Solnik - Não é possível entender o que está acontecendo no Brasil a partir de uma discussão ideológica: se houve ou não houve golpe.
Essa gente capitaneada por Temer e Cunha que chegou ao poder não tem ideologia nenhuma a não ser a do dinheiro.A ideologia que conhecem é fazer fortuna com o dinheiro do estado brasileiro. Sempre foi assim. Vejam o exemplo do decano José Sarney.

Aos 86 anos, 60 dos quais dedicados à política está muitas vezes milionário, sem até agora fornecer qualquer explicação de como isso ocorreu. Sabe-se, no entanto, que o então presidente da Petrobrás no governo FHC, Joel Rennó, era assíduo frequentador de sua mansão e sua família comanda uma das grandes redes de postos de gasolina do país – além de retransmissoras da TV Globo e de outros negócios herdados por seus filhos.

Outro campeão do mesmo esporte, Orestes Quércia, morreu deixando uma herança de bilhões de reais tendo sido a vida inteira político profissional. Seu sucessor na presidência do PMDB é Temer. Dá para imaginar que ele tenha chegado a esse posto sem rezar na mesma bíblia do antecessor?

Nem Sarney, nem Quércia, nem todos os demais – não esqueçamos de Paulo Maluf, ACM, a lista é imensa – jamais foram incomodados para valer pela Justiça. (Ainda hoje, também já octagenário, Maluf continua dizendo que jamais teve conta na Suíça, embora não viaje mais ao exterior como sempre fez, por suspeitar que a Interpol se oponha e faça com ele o mesmo que foi feito com José Maria Marin, por coincidência seu sucessor, por dez meses, no governo paulista ainda no tempo da ditadura militar.)

Contra os que deram mais bandeira foram abertos inquéritos que rolam no STF há muitos anos, sem chegarem aos finalmente. O senador Valdir Raupp, por exemplo, que já foi vice de Temer no PMDB, citado na Lava Jato, responde a um desvio de 167 milhões de dólares do Banco Mundial desde quando era governador de Rondônia (de 1995 a 1999).

O STF sempre foi e continua sendo um refúgio seguro, à prova de intempéries.

De repente, a Lava Jato nasceu. No governo Dilma. E a Lava Jato inovou ao enjaular grandes empresários que tinham negócios com a Petrobrás e ao lhes oferecer uma forma de sair da cadeia: a delação.

E ela não fez nada para barrá-la, por um motivo singelo: tinha certeza de que ela não estava no rolo. Se outros estavam – inclusive petistas – não importava para ela.

A turma do PMDB e seus aliados de partidos satélites enxergaram aí um perigo real. A Lava Jato, como diz o nome, era mais rápida e mais atuante que o STF. E eles não tinham nenhuma relação com os jovens procuradores.

Pela primeira vez em dezenas de anos as suas operações secretas e muito bem camufladas poderiam vir à tona, denunciadas por empresários que não tinham o STF para abrigá-los, com o que eles poderiam perder tudo, ou boa parte do que amealharam, e assim comprometer o seu presente e o futuro dos seus filhos e netos.

Alguma coisa precisava ser feita.

De onde surgiu a iniciativa de pôr fim a essa ameaça? Da fértil imaginação de Eduardo Cunha, por coincidência aquele que mais tinha a perder com a Lava Jato, como até os suíços demonstraram - com precisão suíça.

Por que governos anteriores não foram incomodados pela maioria que vive assaltando os cofres públicos apesar de Fernando Henrique e Lula terem cometido as mesmas "pedaladas" que ela? Porque não havia Lava Jato. Não era necessário inventar pretextos. Sob FHC e sob Lula essa maioria podia agir livremente como sempre agiu. À luz do dia.

Mas quando a Lava Jato chegou com tudo e Dilma não fez o menor esforço para freá-la, muito ao contrário, a estimulou, um plano foi colocado em ação, com duas etapas: primeiro derrubar Dilma, depois derrubar a Lava Jato. Por questão de sobrevivência, não de ideologia, embora, para confundir a opinião pública, que é, na maioria, conservadora, foi criada a narrativa de que era urgente exterminar a petista por ser uma perigosa agente comunista que desejava transformar o Brasil numa nova Venezuela.

A tese do "perigo externo" foi decisiva para convencer a classe média a ocupar a Avenida Paulista para derrotar os "vermelhos" a fim de pressionar a maioria parlamentar.

Inventou-se esse pretexto mequetrefe – pedaladas fiscais – que só deu certo porque qualquer coisa servia para afastar o "perigo vermelho" do Planalto e era do interesse da maioria parlamentar tirar Dilma a fórceps, o quanto antes. Antes que a Lava Jato chegasse neles.

Temer chegou ao poder afrontando os que achavam que ele queria derrubar a corrupção. Formou um ministério de suspeitos e quase réus e fechou o órgão – Controladoria Geral da União - que os fiscalizava. A frase que o marcou foi "eu sei tratar com bandidos", talvez se referindo ao período em que, à frente da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo teve que se ver frente a frente com o rei do jogo do bicho, Ivo Noal e com notórios contrabandistas, dando a entender que isso o qualificava para ser presidente da República.

Agora que Dilma está fora, o grupo majoritário trabalha sofregamente, noite e dia, para acabar definitivamente com ela e com a Lava Jato. Ou seja, age decididamente no intuito de obstruir a Justiça. Mas o STF não vê.

Não optou pelo caminho mais óbvio e também mais visível – trocar o chefe da Polícia Federal, por exemplo – para a obstrução não ficar na cara e assim seus líderes se arriscarem a serem presos, pois obstruir a Justiça dá cadeia na certa. (Roubar os cofres públicos, não.)

A estratégia, mais sutil, mais subterrânea – e ao mesmo tempo "legal" - foi explicitada claramente nos grampos do delator Sérgio Machado, nos quais os caciques do PMDB discutem, preocupados, de que forma podem manipular a maioria parlamentar para aprovar legislação que enfraqueça os efeitos da Lava Jato.

Em reação a esse ataque em curso, os procuradores da Lava Jato, unidos ao Procurador Geral da República travam uma batalha de vida ou morte com o governo Temer.

Não só derrubam seus ministros, na maioria com imensos telhados de vidro (ou de petróleo), como também aproximam a guilhotina do seu pescoço.

Além de contar com a maioria obtida por Cunha na Câmara e por Renan no Senado, sabe-se lá por meio de quais métodos obscuros, Temer também utiliza seus ministros nessa cruzada.

Há alguns dias seu principal colaborador, Eliseu Padilha (conhecido por Eliseu Quadrilha, talvez por ser adepto de festas juninas) afirmou claramente para empresários do Lide, instituição comandada por um dos brasileiros envolvidos no escândalo "Panamá Papers", João 'Dólar Jr'. que está na hora de acabar com a Lava Jato.

Uma coisa é certa. Temer vai tentar convencer a opinião pública de que o mal maior – o governo petista – foi afastado e que agora o país tem que sair da recessão e que a Lava Jato atrapalha a retomada do crescimento. E vai usar todos os meios legais e ilegais para alcançar seu objetivo. (Como orador, já se viu, não convence nem seu filho de sete anos.)

Na verdade, a Lava Jato atrapalha os seus movimentos e os de seu grupo na preservação e crescimento de suas fortunas.

Os procuradores da Lava Jato começam a perceber que a operação só vai sobreviver se Dilma voltar.

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