Ontem me dediquei a examinar a lista de parlamentares que votaram
a favor do impeachment na Câmara e dos que vão votar a favor no Senado, e que
fazem parte, portanto, da base aliada que vai apoiar o governo Temer – se
houver governo Temer – e fiquei estarrecido com a quantidade de deputados e
senadores investigados tanto no STF quanto na Lava Jato.
É a base aliada
mais ficha suja desde a criação da Lei da Ficha Limpa.
Investigados na
Lava Jato são 58 deputados federais - 47 do PP, 8 do PMDB, 1 do PSC, 1 do PTB e
1 do PTC – e nove senadores – 4 do PMDB, três do PP, 1 do PTB e 1 do PSB.
A lista dos que
respondem a inquéritos e ações penais no STF é muito maior: 145 deputados
federais e 25 senadores.
O partido com mais
senadores investigados é o PMDB, com 10. Em segundo lugar, empatados, com
quatro, PSDB e PR. O PTB tem 2 e PSC, PP, DEM e PSD tem 1 cada.
O campeão de
deputados federais pendurados no STF também é o PMDB, com 50. Em segundo lugar,
o PP, com 16. Em terceiro lugar, empatados, com 15, o PSDB e o PR. O PSD,
apesar de ser um partido novíssimo, fundado por Gilberto Kassab aparece em
quarto, com 11. A
seguir, com 9, o DEM. Depois, com 8 estão empatados o PSB, o PSC e o PTB. O PRB
tem 5, o PRP e o PMN, 2 e o PEN e SD têm 1 cada um.
Todos os líderes
desses partidos costumavam e ainda costumam fazer os discursos mais
contundentes a favor da moralização e da ética na política, responsabilizando o
PT pela corrupção que predomina na política brasileira e disseram “sim” a favor
do impeachment.
O atual presidente
do PMDB e um dos principais articuladores do suposto governo Temer, senador
Romero Jucá, já estava bem enrolado quando, anteontem, a ministra Carmen Lúcia
abriu investigação contra ele e contra o presidente do Senado, Renan Calheiros,
acusados, com fortes indícios de receberem, cada um, a quantia de 15 milhões de
reais para aprovar emendas provisórias de interesse da indústria
automobilística. Além disso, responde aos inquéritos 2116, 2963 e 3297 por
crimes contra o patrimônio, crime de responsabilidade, falsidade ideológica e
eleitorais e envolvimento em desvio de verbas federais em obras em Roraima.
Também é investigado sobre origem e destino de 100 mil reais jogados para fora
do carro por um de seus auxiliares momentos antes de ser abordado por policiais
durante a campanha de 2010.
Presidente do
Senado, Renan Calheiros, além da acusação citada acima, está pendurado no
inquérito 2593 no qual é acusado de peculato, falsidade ideológica e uso de
documento falso no caso dos bois de Alagoas, de 2007 para forjar uma renda com
venda de gado para justificar gastos pessoais e com sua ex-amante Monica
Veloso. É também investigado por desviar R$44,8 mil do Senado em verbas
indenizatórias, por usar a cota de passagens aéreas do Senado para pagar
viagens de três acusados de serem seus “laranjas” e de um fazendeiro suspeito
de fraudar venda de gado. Também está incurso no inquérito 3589, por crime
ambiental, acusado pelo MPF de pavimentar ilegalmente uma estrada de 700 metros na estação
ecológica Murici que leva a uma fazenda de sua propriedade.
Ex-presidente do
PMDB, o senador Valdir Raupp é réu em quatro ações penais (358, 383, 554 e 577)
e responde ao inquérito 2442 por peculato, crimes eleitorais e contra o sistema
financeiro e a administração pública. É acusado de ter alterado por conta
própria o destino de recursos de um convênio de US$167 milhões assinado com o
Banco Mundial entre 1997 e 98.
Filiada há um ano
ao PMDB, depois de ter saído do PT por divergir eticamente do partido, a
senadora Marta Suplicy responde à ação penal 648 por crimes da Lei de
Licitações e aos inquéritos 2687, 3235, 3267 e 3544, por improbidade
administrativa, formação de quadrilha, estelionato e falsidade ideológica
durante seu mandato de prefeita de São Paulo, entre 2001 e 2004.
O ex-presidente
Fernando Collor, que sempre se gaba de ter sido absolvido em 1992, na verdade
ainda responde por crimes daquela época. Em 2008, a PGR recomendou ao
STF sua condenação na ação penal 465 por peculato (desviar ou apropriar-se de
recursos públicos), corrupção passiva e falsidade ideológica. Ele e outros seis
réus são acusados de receberem propinas de empresários da área de publicidade
beneficiados por licitações fraudulentas entre 1990 e 92. O dinheiro era
depositado em contas de “laranjas” para pagar contas pessoais, faturas de
cartões de crédito e pensões a filhos de relacionamentos extraconjugais.
Cássio Cunha Lima,
um dos buldogues mais agressivos contra Dilma é ex-governador da Paraíba,
condenado e cassado em 2009 por distribuir 35 mil cheques a eleitores na
campanha de 2006. Só conseguiu manter sua cadeira de senador, apesar de ser
barrado pela Lei da Ficha Limpa porque o STF decidiu não aplicar a lei nas
eleições de 2010. Responde ao inquérito 3393 por crimes da Lei de Licitações.
O veterano,
ex-governador do Pará e ex-presidente do Senado, Jader Barbalho responde a seis
ações penais (374, 347, 398, 498, 549 e 653) por peculato, crimes contra o
sistema financeiro, falsidade ideológica, quadrilha ou bando e emprego
irregular de verba pública, suspeito de integrar quadrilha que desviou mais de
R$1 bilhão do Banco do Estado do Pará, da Sudam e do Ministério da Reforma
Agrária. Foi barrado pela Lei da Ficha Limpa mas manteve o mandato de senador
quando o STF decidiu que a lei não valeria nas eleições de 2010.
Presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha é réu no STF por ter sido acusado de
receber ao menos US$ 5 milhões na operação de compra de navios-sonda pela
Petrobrás e é alvo de mais 11 acusações pela PGR que pede ao STF, desde o ano
passado, seu afastamento da presidência da Câmara, dentre as quais achaque e
intimidação a dirigentes da construtora Schahin, por meio de requerimentos de
convocação assinados por vários deputados de sua tropa de choque, motivados por
uma disputa referente à construção de uma barragem da Cebel, além de ter tido
contas secretas e suspeitas, com depósitos de US$20 milhões fechadas por banco
suíço por não ter conseguido explicar sua origem.
Integrante da
lista dos mais procurados pela Interpol, impedido, sob risco de ser preso, de
entrar em vários países, inclusive Estados Unidos, o deputado Paulo Maluf
responde a ações penais 461 e 477 e a três inquéritos (2471, 3545 e 3601) por
crimes contra o sistema financeiro, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro
e crimes eleitorais. No inquérito 2471, ministros do STF aceitaram denúncia de
que o grupo de Maluf desviou R$1 bilhão da prefeitura de São Paulo quando ele
foi prefeito.
Líder do PSC e
desabrido componente da tropa de choque de Eduardo Cunha, o novato André Moura,
um dos mais ácidos críticos da presidente Dilma, responde aos inquéritos 3110
(crimes eleitorais), 3224 (crimes de responsabilidade e formação de
quadrilha), 3221 (crimes de responsabilidade), 3204 (formação de quadrilha,
improbidade administrativa), 3516 (crimes de responsabilidade) e 3594 (crimes
da Lei de Licitações e Peculato).
O deputado Beto
Mansur (PP-SP), que muitas vezes substitui Cunha na presidência da Câmara,
responde ações penais 635 - na qual é acusado de ter submetido 46
trabalhadores, inclusive 7 crianças a trabalho análogo à condição de escravo em
duas fazendas de Goiás - e 580, por crimes de responsabilidade. Também está
incurso nos inquéritos 3013, 2688, 2616 e 2519 por crimes de responsabilidade e
contra a administração pública.
O pastor Marco
Feliciano é réu na ação penal 612 por estelionato, acusado de ter inventado um
acidente no Rio de Janeiro para justificar ausência em evento no Rio Grande do
Sul para o qual tinha recebido cachê, passagens e hospedagem. Também está
enquadrado no inquérito 3590 no qual é suspeito de induzir ou incitar
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião. No inquérito 3646
é questionado por contratar pastores da sua igreja por seu gabinete parlamentar.
O deputado
Paulinho da Força, presidente do Solidariedade e defensor resoluto de Eduardo
Cunha tem contra si a ação penal 421, por estelionato, crimes contra a fé pública
e concussão. Em 2008 foi absolvido no Conselho de Ética no inquérito 2725 –
desvio de recursos do BNDES – mas ainda está incruso nos inquéritos 2778 e 2639
por utilização indevida de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT)
pela Força Sindical em cursos profissionalizantes.
O time de Temer
ainda é integrado por gente como Jair Bolsonaro, deputado que, apesar de não
ser investigado por corrupção, ostenta o título de o mais desprezível e sujeito
a punição na corte internacional de Haia e na comissão de ética, depois de ter
elogiado o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra ao vivo e a cores na
votação em que apoiou o impeachment da presidente.
Quem tem uma base
aliada como essa não precisa de oposição.
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